Museu Nacional - UFRJ

Histórico e Importância. JUSTIFICATIVA E INSPIRAÇÃO

Histórico e importância

O Programa de Pós-graduação em Linguística e Línguas Indígenas (PROFLLIND), em sua modalidade profissional (mestrado), é oferecido de forma pioneira pelo Museu Nacional, instituição amplamente reconhecida, em nível nacional e internacional. Vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é um Curso de pós-graduação stricto sensu que inclui, em seu corpo docente, aqueles com larga experiência de pesquisa com línguas e grupos indígenas. Seu público-alvo é constituído por egressos de Cursos de Graduação ou de Cursos de Terceiro Grau indígena com atuação profissional marcada pelo desafio de enfrentar a materialidade das línguas indígenas e os elos de sua inserção em contextos sociais e culturais específicos. E, ainda, por todos aqueles que necessitem dos instrumentos da Linguística para lidar com as línguas indígenas que integram o seu universo de trabalho. Como parte de seus resultados, está a capacitação específica ligada à pluralidade linguística e cultural existente no Brasil. A apropriação, por parte dos profissionais a serem formados, de conhecimentos e técnicas no domínio da Linguística deverá habilitá-los ao desenvolvimento de suas práticas e à transmissão de habilidades específicas em contextos de uso de línguas indígenas e/ou de reflexão sobre a herança linguístico-cultural indígena, resultando daí valor pedagógico agregado em linguagem.

Está em seu sexto ano de existência, após ter sido recomendado  pelo Conselho Técnico Científico (CTC) da CAPES em 26 de março de 2015, cujas decisões foram divulgadas em 10 de maio daquele  mesmo ano.

Ao mesmo tempo que é um curso relativamente novo, também é sem similar no país - no âmbito da área de conhecimento a que se encontra vinculado na CAPES (Área Básica: Linguística; área de avaliação: Linguística e Literatura) - e, além disso, estrategicamente importante para o próprio país. Reúne, no seu corpo docente, pesquisadores com ampla experiência em pesquisa sobre diferentes línguas/variedades linguísticas faladas por diferentes povos / comunidades e inclui, majoritariamente, no seu corpo discente, membros de comunidades indígenas que, com graduação completa, enfrentam o desafio de lidar com questões relacionadas à linguagem em contextos culturais e sociais específicos. O caráter inovador do PROFLLIND (MN- UFRJ) deriva-se da sua proposta de capacitar profissionais do setor da educação, incluindo os professores indígenas, da saúde e da administração pública com atuação nas áreas indígenas ou cujos serviços estão direta ou indiretamente relacionados às comunidades indígenas. Ao preparar o seu alunato para conhecer línguas e culturas indígenas em contextos de diversidade sociocultural e linguística, o PROFLLIND (MN- UFRJ) dá um grande passo em benefício da Educação no Brasil, mormente no âmbito da Educação Básica. Um dos resultados esperados do Programa é a promoção de habilidades e conhecimentos que, com base nos aportes e desenvolvimentos recentes da Linguística, permitam aos alunos lidar com a realidade cultural e linguisticamente heterogênea do Brasil.

O Programa conta com alunos indígenas e não indígenas, sendo que os alunos indígenas são maioria. Desde que o Curso começou a funcionar, em 2016, o mesmo já teve 82 alunos indígenas matriculados ( descontados 3 falecimentos e 04 abandonos). No quadro do Curso, foram defendidas, até o momento, 36 dissertações de autoria de alunos indígenas e não indígenas, com um número significativo de ex-alunos que alcançam o doutorado, sendo que, no quadro discente, há alunos que, interessados no Programa, já possuem doutorado. Vale ressaltar que o alunato indígena do PROFLLIND (UFRJ) provém de diferentes pontos do país, sendo constituído majoritariamente de indígenas pertencentes a diferentes povos, uma grande parte dos quais é constituída de falantes de pelo menos uma língua indígena e - ressalte-se – com um importante espaço para membros de povos indígenas cuja língua originária se encontra em processo de vitalização/ revitalização/ retomada.

É igualmente importante ressaltar que, no sistema de quotas existente em diferentes Programas de Pós-graduação stricto sensu no país, o PROFLLIND inovou, ao inverter os percentuais em relação às próprias quotas: na proposta deste Programa, 70% das vagas devem estar destinadas a candidatos autoidentificados como indígenas, ficando 30% das vagas para os não autoidentificados como indígenas. Essa providênciaa inversão da quota - é o que permite a construção de uma maioria indígena no âmbito de um mesmo Programa de pós-graduação stricto sensu recomendado pela CAPES. Até o momento, computando-se os alunos no quadro ativo e os egressos (ex-alunos) há 28 etnias que se fizeram representar no corpo discente. São as seguintes:

(1) Bakairi; (2) Baniwa; (3) Baré; (4) Desana; (5) Guajajara (Tenetehara); (6) Guarani Mbya; (7) Guarani Nhandeva; (8) Kaingáng; (9) Kokama; (10) Marubo; (11) Macuxi; (12) Mebengokre; (13) Mura; (14) Omagua; (15) Pataxó; (16) Potiguara; (17) Puri; (18) Pykopjê; (19) Suruí Paiter; (20) Terena; (21) Ticuna (Tikuna); (22) Tukano; (23) Tupiniquim; (24) Waiwai; (25) Wanano; (26) Xavante ; (27) Xokleng; (28) Yawanawa.

Dada às características de seu alunato, o Curso apresenta, no contexto do Museu Nacional e da UFRJ, o que talvez seja uma das maiores presenças exemplificadas da diversidade linguística existente no país.

Justificativa

A justificativa para a oferta do PROFLLIND apoia-se em um conjunto de necessidades, já elencadas no perfil da proposta deste Programa, a que se associam temas, efeitos positivos.

Destaque-se que o PROFLLIND foi justamente pensado como uma ferramenta de qualificação dos professores indígenas, dos profissionais ligados a diferentes órgãos e dos pesquisadores em língua indígena, para que a oferta de ensino e a documentação, ao lado da manutenção da vitalidade das línguas e culturas, se dê não somente em quantidade, mas também em qualidade e em sintonia com a diversidade, a pluralidade linguística. Entre os temas importantes associados a tais pontos e merecedores de desenvolvimento estão os seguintes:

  • Interdisciplinaridade no campo das expectativas, com envolvimento da Linguística (e suas especialidades) e das Línguas Indígenas e outras áreas de conhecimento dentro da Academia (Antropologia, Educação (incluída a Educação Patrimonial), Saúde, Política; a Música, a Ética (algo que surge das próprias dissertações defendidas até o momento);
  • a transdisciplinaridade e os desafios por que passa a própria Linguística (e outros campos de conhecimento em sala de aula), com o necessário diálogo a ser tecido com outras epistemologias;
  • a própria pauta indígena (em que o “nós” tem que ser investido de localidade);
  • as políticas linguísticas/ as políticas de línguas, em contexto local e para além deste, com inclusão dos contextos urbanos;
  • o desafio institucional ( de que fazem parte as dificuldades de obtenção de recursos, a obtenção de vagas para concursos (com destaque para a inclusão de docentes indígenas na pós- graduação stricto sensu)); o desafio intermitente de convencimento, no sentido de que o investimento é necessário e vale a pena;

Como registro importante e igualmente significativo, ressaltem-se os espaços de uso de línguas indígenas em contextos urbanos, acadêmicos. A título de caso exemplificador, está a cidade do Rio de Janeiro, em que se localiza o Museu Nacional. A partir da presença expressiva de seu alunato indígena e do uso real de línguas indígenas por parte de seus falantes, que podem, entre outras coisas, conversar entre si em suas próprias línguas/ variedades linguísticas em diferentes situações, deriva-se um conjunto de efeitos de sentidos, majoritariamente positivos. Por exemplo, outros, que se consideram não indígenas e veem aqueles como distantes, têm a oportunidade da aproximação. Não é difícil verificar aí que o uso de línguas indígenas alcança sucesso entre diferentes interlocutores. Outras instituições, sabedoras da presença dos alunos indígenas, os convidam para conferências, palestras, rodas de conversa, divulgações acadêmicas, jornalísticas, entre outras possibilidades. Na academia ou fora dela, pessoas se aproximam, incluídas as pessoas comuns, que passam e, interessadamente, procuram interagir.

Assim, um conjunto de necessidades apontadas e temas elencados, ao lado de um conjunto de efeitos de sentidos majoritariamente positivos, se entrelaçam como justificativa para a oferta do PROFLLIND (MN-UFRJ).

Inspiração

Atuar em área indígena coloca uma primeira necessidade, para todo aquele que não é indígena ou membro do grupo étnico no interior do qual se dá a sua atuação profissional: a necessidade de compreender o universo cultural que o cerca, o que, na maior parte das vezes, implica conviver com um dado universo linguístico muito diferente do seu próprio. Variadas são as situações em que essa necessidade se apresenta, se consideradas as diferentes profissões que levam a uma experiência em área indígena. Podem ser encontrados aí desde os diferentes técnicos da FUNAI, da FUNASA, das Secretarias de Educação, até pesquisadores que, pertencentes a diversos órgãos, se defrontam com o que é, para eles e sua profissão, uma barreira linguística e cultural.

Atuar profissionalmente em área indígena pode ser igualmente difícil para quem é indígena, porque a atuação profissional também coloca determinadas demandas. No caso de profissionais indígenas, esses passam a ser, para o seu próprio grupo, intelectuais de quem se espera a transmissão de um conhecimento externo ao grupo, colocando-se também aí a necessidade de uma tradução cultural e linguística. Essa última situação é profundamente vivenciada pelos professores indígenas, que, ao concluírem o chamado Terceiro Grau Indígena, desejam prosseguir em seus estudos, de modo a aumentar a sua qualificação profissional, ampliar a sua atuação como pesquisadores e aperfeiçoar o seu desempenho.

Num caso como no outro – profissionais não indígenas em área indígena e profissionais indígenas com atuação em área indígena –, coloca-se uma demanda que passa pela língua e, em última análise, por um processo educacional.

Fortalecer e organizar a chamada educação escolar indígena no país está em pauta e é, ao mesmo tempo, uma necessidade imperiosa, que demanda por iniciativas governamentais que, recolocadas no horizonte, estejam voltadas para a ampliação e qualificação da oferta da educação básica e superior para os povos indígenas, além da garantia da participação dos povos indígenas nos processos de construção e implementação da política de educação escolar indígena multilíngue e multicultural.

Com formação adequada, como a que o PROFLLIND objetiva oferecer, os agentes educacionais e as lideranças indígenas poderão participar de maneira mais informada, consciente e ativa da decisão de políticas públicas voltadas à implementação de ações, preparando-se para ser professores,  elaboradores de materiais didáticos, documentadores de suas línguas e ou de sua cultura, sempre respeitando as especificidades das etnias. E aqueles profissionais que interagem com membros de comunidades indígenas poderão manter uma interlocução de maior qualidade e eficiência e respeito à diversidade.

O PROFLLIND se propõe a atuar ainda no aperfeiçoamento de professores de História e Cultura Indígena, qualificando os agentes educacionais que darão concretude a essa iniciativa cuja proveniência é governamental (MEC). O curso qualificará professores das redes de ensino municipal e estadual na abordagem das temáticas cultura e história dos povos indígenas em suas propostas pedagógicas e curriculares.

Os numerosos povos indígenas no Brasil (por volta de 230), falam, aproximadamente, 180 línguas, quase todas em risco de moderado a grave de extinção. Muitas populações não registraram seus mitos, tradições, narrativas e cantos. E a maioria da população não indígena ainda desconhece essa riqueza cultural, que, quando é abordada pela escola, não é retratada adequadamente.

A imagem dos indígenas em material didático e na mídia, mesmo nos dias atuais, ainda é distorcida e estereotipada – uma situação que só será devidamente superada com o aprimoramento da formação dos educadores. Toda a nação brasileira tem uma dívida histórica para com os povos originários no país, que precisa ser resgatada. O caminho é uma nova abordagem da questão indígena, que inclua as próprias contribuições dos indígenas, inclusive como professores e pesquisadores de suas próprias línguas/ variedades linguísticas.

Essa é a inspiração que deu nascimento ao PROFLLIND.

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